domingo, 14 de junho de 2009

FOCAULT

Foucault Arqueologia do Saber

(9.6.1) HyperLogos > Pensadores > Michel Foucault > Foucault Arqueologia do Saber

Foucault - Arqueologia do Saber
Discurso e a Formação do objeto do discurso
“As Unidades do Discurso e a Formação do objeto do discurso”.

“(...) As margens de um livro jamais são nítidas nem rigorosamente determinadas (...) ele está preso em um sistema de remissões a outros livros, outros textos, outras frases: nó em uma rede (...) Antes de se ocupar, com toda certeza, de uma ciência, ou de romances, ou de discursos políticos, ou da obra de um autor, ou mesmo de um livro, o material que temos a tratar, em sua neutralidade inicial, é uma população de acontecimentos no espaço do discurso em geral (...) uma descrição dos acontecimentos discursivos como horizonte para a busca das unidades que aí se formam (...) As condições para que apareça um objeto de discurso, as condições históricas para que dele se possa ‘dizer alguma coisa’ e para que dele várias pessoas possam dizer coisas diferentes, as condições para que ele se inscreva em um domínio de parentesco com outros objetos, para que possa estabelecer com eles relações de semelhança, de vizinhança, de afastamento, de diferença, de transformação – essas condições, como se vê, são numerosas e importantes. Isto significa que não se pode falar de qualquer coisa em qualquer época (...)o objeto não espera nos limbos a ordem que vai liberá-lo e permitir-lhe que se encarne em uma visível e loquaz objetividade; ele não preexiste a si mesmo (...), mas existe sob as condições positivas de um feixe complexo de relações (...) Estas relações são estabelecidas entre instituições, processos econômicos e sociais, formas de comportamentos, sistemas de normas, técnicas, tipos de classificação, modos de caracterização; e essas relações não estão presentes no objeto (...) elas não definem a constituição interna do objeto, mas o que lhe permite aparecer, justapor-se a outros objetos, situar-se em relação a eles, definir sua diferença, sua irredutibilidade e, eventualmente, sua heterogeneidade; enfim, ser colocado em um campo de exterioridade (...)” (FOUCAULT, 1995, pg 26, 30 e 51).”

“Formação de modalidades enunciativas”
“(...) ver no discurso (...) um campo de regularidade para diversas posições de subjetividade. O discurso, assim concebido (...) é um conjunto em que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua descontinuidade em relação a si mesmo. É um espaço de exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares distintos (...) (M. FOUCAULT, 1995, pg 62) Não é preciso, pois, conceber o sujeito do enunciado como idêntico ao autor da formulação, nem substancialmente, nem funcionalmente (...) é um lugar determinado e vazio que pode ser efetivamente ocupado por indivíduos diferentes; mas esse lugar, em vez de ser definido de uma vez por todas e de se manter uniforme ao longo de um texto, de um livro ou de uma obra, varia – ou melhor, é variável o bastante para poder continuar, idêntico a si mesmo, através de várias frases, bem como para se modificar a cada uma. Esse lugar é uma dimensão que caracteriza toda formulação enquanto enunciado, constituindo um dos traços que pertencem exclusivamente à função enunciativa e permitem descrevê-la. Se uma proposição, uma frase, um conjunto de signos podem ser considerados ‘enunciados’, não é porque houve, um dia, alguém para proferi-los ou para depositar, em algum lugar, seu traço provisório; mas sim na medida em que pode ser assinalada a posição do sujeito. Descrever uma formulação enquanto enunciado não consiste em analisar as relações entre o autor e o que ele disse (ou quis dizer, ou disse sem querer); mas em determinar qual é a posição que pode e deve ocupar todo indivíduo para ser seu sujeito (...)” (FOUCAULT, 1995, pg 109).

“Formação dos conceitos e estratégias”
“(...) o que pertence propriamente a uma formação discursiva e o que permite delimitar o grupo de conceitos, embora discordantes, que lhe são específicos, é a maneira pela qual esses diferentes elementos estão relacionados uns com os outros (...) É esse feixe de relações que constitui um sistema de formação conceitual (...)(M. FOUCAULT, 1995, pg 67) “NA descrição de semelhante sistema (...) não se toma como objeto de análise a arquitetura conceitual de um texto isolado, de uma obra individual ou de uma ciência em um dado momento. Colocamo-nos na retaguarda em relação a esse jogo conceitual manifesto; e tentamos determinar segundo que esquemas (...) os enunciados podem estar ligados uns aos outros em um tipo de discurso; tentamos estabelecer, assim, como os elementos recorrentes dos enunciados podem reaparecer, se dissociar, se recompor, ganhar em extensão ou em determinação, ser retomado no interior de novas estruturas lógicas, adquirir, em compensação, novos conteúdos semânticos, constituir entre si organizações parciais. Estes esquemas permitem descrever sua dispersão anônima através de textos, livros e obras (...)” (FOUCAULT, 1995, pg 67). (...) Uma formação discursiva será individualizada se se puder definir o sistema de formação das diferentes estratégias que nela se desenrolam; em outros termos, se se puder mostrar como todas derivam (malgrado sua diversidade por vezes extremas, malgrado sua dispersão no tempo) de um mesmo jogo de relações. Por exemplo, a análise das riquezas, nos séculos XVII e XVIII, é caracterizada pelo sistema que pôde formar, ao mesmo tempo, o mercantilismo de Colbert e o ‘neomercantilismo’ de Cantillon; a estratégia de Law e a de Paris-Duverney?; a opção fisiocrática e a opção utilitarista. Esse sistema será definido se se puder descrever como os pontos de difração do discurso econômico derivam uns dos outros, se comandam e se pressupõem (como de uma decisão a propósito do conceito de valor deriva de um ponto de escolha a propósito dos preços); como as escolhas efetuadas dependem da constelação geral em que figura o discurso econômico (a escolha em favor da moeda-signo está ligada ao lugar ocupado pela análise das riquezas, ao lado da teoria da linguagem, da análise das representações, da ‘mathesis’ e da ciência da ordem); como essas escolhas estão ligadas à função exercida pelo discurso econômico na prática do capitalismo nascente, ao processo de apropriação de que é objeto por parte da burguesia, ao papel que pode desempenhar na realização dos interesses e dos desejos. O discurso econômico, a época clássica, define-se por uma certa maneira constante de relacionar possibilidades de sistematização interiores a um discurso, outros discursos que lhe são exteriores e todo um campo, não discursivo, de práticas, de apropriação, de interesse e de desejos (...)”(FOUCAULT, 1995, pg 75-76).

“Arqueologia”
“A arqueologia busca definir não os pensamentos, as representações, as imagens, os temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos discursos; mas os próprios discursos, enquanto práticas que obedecem a regras (...)(M. FOUCAULT, 1995, pg 159 – 160) O problema dela é definir os discursos em sua especificidade (...) segui-los em suas arestas exteriores para melhor salientá-los (...) Ela define tipos e regras de práticas discursivas que atravessam obras individuais (...) Não é nada além e nada diferente de uma reescrita (...) é a descrição sistemática de um discurso-objeto (...) (FOUCAULT, 1995, pg 159 – 160). (...) em um romance, o autor da formulação é o indivíduo real cujo nome figura na capa do livro (...) mas (...) os enunciados do romance não têm o mesmo sujeito, conforme dêem, como se fosse do exterior, os marcos históricos e espaciais da história contada, ou descrevam as coisas como as veria um indivíduo anônimo, invisível e neutro, magicamente misturado às figuras da ficção, ou ainda dêem, como se fosse por decifração interior e imediata, a versão verbal do que, silenciosamente, experimenta um personagem. Esses enunciados, ainda que o autor seja o mesmo, ainda que só os atribua a si, ainda que não invente relais suplementar entre o que ele é e o texto que se lê, não supõem para o sujeito enunciante os mesmos caracteres; não implicam a mesma relação entre o sujeito e o que ele está enunciando (...) (FOUCAULT, 1995, pg 106). (...) as margens de um livro jamais são nítidas nem rigorosamente determinadas: além do título, das primeiras linhas e do ponto final, além de sua configuração interna e da forma que lhe dá autonomia, ele está preso em um sistema de remissões a outros livros, outros textos, outras frases: nó em uma rede (...)”(FOUCAULT, 1995, pg 107).

Nenhum comentário:

Postar um comentário